quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

MOACIR BEGGO ENTREVISTA DOM ENZO

                       FOTO DE 1991



Há 24 anos, os alunos da Escola Técnica em Agro-pecuária subiam a rampa do prédio do Seminário São José, de Araçuaí, para a aula inaugural, ao som da música de Geraldo Vandré, “Pra não dizer que não falei das flores”, uma canção que foi proibida durante o regime militar e só liberada em 1979. No dia 22 de fevereiro deste ano, os novos alunos repetiram a canção para homenagear o seu fundador, Dom Enzo Rinaldini, que desde o primeiro dia foi também um mestre dedicado até hoje. A homenagem emocionou o bispo emérito da Diocese de Araçuaí,  a ponto de não conseguir terminar a bênção final.

Dom Enzo se dedicou de corpo e alma a esta escola, que tem um nome difícil de se acostumar: Hagrogemito. Ele explica: agro – agropecuária; ge – geologia; mi – mineração; e to - topografia, que eram os cursos técnicos disponibilizados pela escola. Numa espécie de entrevista coletiva, Dom Enzo conversou com os alunos de hoje e confessou que na época da fundação, a maior dificuldade foi fazer os alunos entenderem que esta era uma escola diferente. “Não era só uma escola de colar grau e ter uma capacitação técnica, mas dar ao aluno uma formação moral e cristã”, contou, sem perder a oportunidade de criticar nossa sociedade consumista.

“Vejo que a juventude hoje em dia – não sei se é o caso de vocês, disse para os alunos – procuram a escola pensando somente no retorno financeiro, mas não para estudar e se tornarem agentes de transformação social. Existe por aí uma cambada de doutores que não contribuem em nada para elevar o nível social, econômico, cultural e moral da população. Posso dizer que hoje em dia a sociedade é mais depravada do que há 24 anos. Infelizmente, as vítimas são vocês. Os jovens”, lamentou, lembrando as drogas, os crimes, a prostituição que cerca o universo do jovem hoje. “Queira Deus que vocês, freqüentando esta escola, entendam que a coisa mais importante não é a habilitação técnica, mas a formação moral e ética. Acrescento também a religiosa”, disse, assinalando, contudo, que a escola aceita alunos de outras religiões.

Dom Enzo foi ordenado sacerdote na Diocese de Brescia,na Itália, em 1949. Ele chegou, como missionário ao Brasil, em 1968. “O bispo D. José Maria Pires queria construir um seminário para abrigar 100 seminaristas. Era uma norma do próprio Papa que em todas as dioceses tivessem um seminário. Eu cheguei em 1960 e vim exatamente para poder ajudar no Seminário e na paróquia”, conta Dom Enzo.

Nos anos 70, segundo Dom Enzo, o prédio foi alugado por alguma faculdades, como a Pontifícia Universidade Católica (PUC), para abrigar formandos que estavam fazendo estágio em diversas áreas na região. “Quando cheguei como bispo, em 1892, sabia que no ano seguinte terminaria o prazo para as universidades que alugavam o prédio para seus cursos. Na época fiz a proposta ao Reitor da universidade para que continuasse aqui com os universitários mas se criasse uma escola profissionalizante. Ele ficou pensando e me disse que não era viável. Em 1983 encerrei o contrato e dei início à Escola de Agropecuária”, recorda D. Enzo. “A idéia inicial era de fazer uma escola diferente. Uma escola em que o aluno deveria ficar durante o dia todo, das 7h30 até às 5 horas da tarde, inclusive almoçando aqui. De manhã haveria aula, à tarde estudo com aulas de reforço e, das 15 às 17 horas, trabalho na horta”.

Segundo D. Enzo, o curso tinha duração de 4 anos. “Era talvez a única escola do Brasil que tinha o curso de 2º Grau Técnico de 4 anos. Em 1991, anexei os cursos de geologia, mineração e topografia, que depois virou agrimensura”, explicou. “É de se notar que, além de o aluno ficar o dia todo na escola, havia também o internato. O prédio era grande e não havia seminaristas, então, passamos a abrigar alunos de outras cidades que não tinham possibilidade de pagar o aluguel de uma casa ou hospedagem. Havia uma turma do interior muito grande. Inclusive, professores que moravam na escola”, recordou Dom Enzo.
POSTADO POR NILTON RIBEIRO
TEXTO DE: Moacir Beggo

Nenhum comentário:

Postar um comentário